Você conhece Shanora Williams? Provavelmente não. Eu, pelo menos, não conhecia até o início das pesquisas para criar um vídeo sobre fantasia e romance – agora conhecidos como romantasia. Em entrevista para a Keke Magazine, a autora compartilhou um acontecimento que afeta o mercado literário, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil. Segue a leitura para entender toda a questão.

Shonara Williams

Quem é Shonara Williams?

Shonara Williams é uma autora que vive em Charlotte, Carolina do Norte. Mão de três meninos, tem um marido dedicado e solidário e tem onze irmãos. Quando não está escrevendo, gosta de passar tempo com sua família, lendo, correndo maratonas ou assistindo algo em serviços de straming.

Ela também é autora bestseller do New Tork Times e USA Today, conhecida pelos seus romances que envolvem muita paixão, mistério e suspense. Sua coleção de escritos acumula quase 30 títulos lançados

Em suas histórias, o protagonismo negro é algo pontuado. As mulheres de suas narrativas são negras. No entanto, elas não estão na capa dos livros, que são compostos, em sua maioria, por elementos dos romances ou por homens brancos (descamisados).

Por que muitas capas de autoras negras não têm personagens negros?

Quando a autora foi publicar um de seus livros de romance, com muito suspense, ficou surpresa com um pedido sobre a capa: não ter pessoas negras. A justificativa era que essa decisão seria boa para a comercialização da história. Ou seja, o mercado literário entende que personagens negros na capa fazem o livro vender menos.

Infelizmente, isso não é algo que acontece apenas nos Estados Unidos. Vá até a sua estante, principalmente se você tem vários romances nele, e veja quantas são os livros com ilustrações ou fotos de pessoas negras, depois compare a quantidade com pessoas brancas. Viu? Aqui ou lá temos movimentos semelhantes.

Shonora Williams também falou algo muito importante na entrevista:

Eu não queria que as pessoas não lessem a história porque sentiam que não conseguiriam se conectar.

Isso me faz pensar o quanto é injusto, porque a gente cresce tendo que buscar conexões com histórias sobre pessoas brancas porque é o que temos, mas as pessoas brancas desistem de ler por falta de conexão?

Vivências negras não são consideradas universais

Chegamos até a grande questão: as vivências de pessoas negras não são consideradas como universais. Ou seja, o que é branco, é universal. Todos podem ler, acessar e se identificar. No entanto, se for sobre ser uma pessoa negra, as experiências são de um grupo minoritário.

Ao mesmo tempo que retiram a nossa individualidade – quem nunca esteve em uma fila e escutou a frase “vocês são irmãos” dirigida para você e um completo desconhecido que só tinha uma característica em comum: ser negro – também não nos deixam fazer parte da universalidade.

Amar deveria ser uma experiência universal. Se estou escrevendo um livro sobre amor, os românticos de plantão, as pessoas apaixonadas pelo gênero ou quem só quer ler uma história assim deveria se identificar se a sinopse/rumo da história for interessante. Mas a situação não é vista desta maneira, uma história sobre amor com personagens negros na capa parece ser algo distante para pessoas brancas.

Como mudar o cenário?

Não é fácil mudar uma estrutura que está em vigor há muitos anos. O mercado literário tem raízes racistas, assim como a nossa sociedade ou, até mesmo, podemos falar do mundo. Mas se continuarmos dando fama para autores negros quando eles escondem a sua identidade ou não colocam pessoas negras na capa, continuaremos a dar voz aqueles que dizem que, por questões mercadológicas, é melhor ir no seguro.

Podemos não mudar as editoras por agora, mas é importante termos um movimento no mercado de literatura independente, uma vez que há mais liberdade de escolha. Que tal ir no catálogo da Amazon e procurar por histórias com protagonistas negros na capa?

Um passo de cada vez caminhamos para pararem de nos silenciar.

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