Os meus livros favoritos de 2024
Ainda dá tempo de uma retrospectiva literária? Sei que o ano já virou, estamos até na primeira semana útil, mas ainda estou pensando em tantas leituras incríveis que consegui fazer no ano passado, por isso fiquem com os meus livros favoritos do ano! 1. Sete Dias em Junho de Tia Williams (Verus Editora) O primeiro favorito do ano não poderia ser outro! Vocês não sabem o quanto eu esperei “Sete Dias em Junho” chegar aqui no Brasil! Desde a chegada de “A escolha perfeita”, da mesma autora, fiquei ansiosa pelo meu encontro com essa história que sabia que seria incrível, mas foi muito mais. Nessa narrativa me encontrei com personagens autênticos, engraçados, cheios de amor e com uma complexidade única. Personagens adultos sendo adultos de verdade, com dilemas reais e ainda com questões sobre escrita e negritude de fundo. E, claro, aquele romance de tirar o fôlego! A combinação de tudo o que mais amo. Sinopse: Eva Mercy é mãe solo, escritora best-seller de livros eróticos e se sente muito pressionada por todos os lados. Shane Hall é um romancista recluso, enigmático e premiado que, para surpresa geral, aparece em Nova York. Quando Shane e Eva se encontram em um evento literário de forma inesperada, faíscas surgem, mexendo não apenas com os traumas enterrados dos dois, mas também com as opiniões dos literatos negros. O que ninguém sabe é que quinze anos antes, os adolescentes Eva e Shane passaram uma semana louca e tórrida, completamente apaixonados. Eles podem fingir que não se conhecem, mas não podem negar a química que existe ― nem o fato de que seus livros foram escritos um para o outro ao longo dos anos. Nos sete dias seguintes, em meio a um verão quente no Brooklyn, Eva e Shane se reconectam, mas Eva não consegue confiar no homem que um dia partira seu coração e o quer fora da cidade para que a vida dela possa voltar ao normal. Antes que Shane desapareça, Eva precisa de algumas respostas… 2. Impostora de R. F. Kuang (Intrínseca) “Impostora” já fazia muito barulho nas bookredes gringas antes de chegar no Brasil e assim que comecei a ler entendi exatamente o motivo de ser o livro favorito de tantas pessoas! Em uma narrativa ágil, Kuang nos leva do thriller para a comédia; da comédia para o suspense e do suspense para a indignação em cada capítulo. É uma ótima história para brincar com certo e errado, pois apesar de para nós, leitores, o certo ficar bem claro, para a protagonista, a pessoa que acompanhamos de pertinho narrando o livro, discorda, colocando as suas certezas acima das nossas. Que experiência é essa leitura! Sinopse: As escritoras June Hayward e Athena Liu se formaram em Yale e publicaram seus romances de estreia na mesma época. Tudo indicava que chegariam juntas ao estrelato, mas, pouco depois da graduação, Athena começou a colher louros literários, enquanto June recebeu apenas migalhas de reconhecimento. Afinal, ninguém aguenta mais ler histórias de mulheres brancas – ao menos é o que June pensa. Quando Athena morre em um estranho incidente, June decide que chegou seu momento de brilhar. Por impulso, ela rouba o manuscrito do novo livro da amiga, uma obra experimental sobre a relevância dos trabalhadores chineses durante a Primeira Guerra Mundial. O texto é brilhante. E June recebe uma proposta de publicação de sua editora, que sugere um reposicionamento de mercado. E se ela passasse a usar um nome ambíguo, como Juniper Song? June aceita, pois se uma história é boa, precisa ser contada. E as listas de mais vendidos a fazem acreditar que está no caminho certo. Mas alguém parece saber que a obra-prima de Athena Liu foi roubada, e debates sobre plágio e identidade racial ganham as redes sociais. June então percebe que não poderá escapar desse fantasma para sempre. Do que ela será capaz para proteger o sucesso que acredita merecer? 3. O segredo das larvas de Stefano Volp (Galera Record) Que saudades eu estava de uma boa distopia! Consumi muito o gênero em seu auge, na época de Jogos Vorazes, Divergente e Maze Runner e, desde então, nunca mais tinha tocado em uma distopia, só assistido uma ou outra ao longo dos anos, mas tinha saudade da experiência de leitura, sabe? Então, que surpresa me reencontrar com o gênero em uma obra que a protagonista é parecida comigo. Volp trás para a sua história questões raciais de extrema importância, além de discussões sobre classe, manipulação de massas e, claro, poder. A protagonista é forte, decidida e é um prazer acompanhar a jornada dela por conhecimento de mundo (e autoconhecimento também!). Ah, e tem continuação, viu? Não vejo a hora de lançar para continuar a explorar esse mundo. Sinopse: O maior medo de Freya é ser escolhida para morar na capital, onde supostamente viveria uma vida melhor. Afinal, nada do que vem da capital deve ser coisa boa. O segredo das larvas , de Stefano Volp, autor de Nunca vi a chuva , apresenta uma distopia intrigante com referências afrofuturistas. Em um futuro não tão distante, Freya mora em uma colônia onde pessoas de pele negra são confinadas. Lá, além de lidar com os transtornos mentais da mãe, ela vive constantemente assombrada pela Filtragem, o programa da metrópole que promete selecionar as garotas mais belas para passarem o restante de suas vidas em Éden, desfrutando dos privilégios da capital tão desejada. Apesar de não conhecer o mundo do outro lado da cerca, Freya se recusa a acreditar nessas promessas. Ela tem certeza de que a convocação é um disfarce para os piores pesadelos. Algo terrível acontece nas beiras do mundo e as garotas filtradas correm perigo. Freya sabe de tudo isso porque sua própria mãe foi uma Filtrada. A única que retornou… Chegou novamente o período da Filtragem e só o que resta a fazer é escapar. Só que agora, nada será igual e Freya precisará decidir até onde está disposta a ir para não mais apenas sobreviver, mas finalmente se vingar. 4. Amor em cores de Bolu Babalola
Presença negra nas agências literárias brasileiras | Pesquisa 2024
Desde 2020 produzo conteúdo para as redes sociais. Antes, como Fala, Day, agora como @dayescreve, mas sempre com o mesmo objetivo: me aproximar mais das histórias feitas por pessoas pretas. Foi há quatro anos que essa vontade me fez repensar na minha estante e começar a estudar o mercado literário sob esta ótica. Por isso, consegui perceber que a presença negra nas agências literárias brasileiras era um grande problema, mas não me contentando com o achismo comecei a desenvolver uma pesquisa que, hoje, tomou mais corpo e será apresentada nesta postagem. Como a pesquisa foi feita? Na primeira vez que fiz a pesquisa fui de site em site das agências e procurei fotos, descrições e entrevistas nas quais os autores declaravam a sua raça. No entanto, isso não é fácil nem muito seguro. Umas vezes não achava fotos, outras não achava declaração. Desse modo, decidi fazer diferente: entre em contato com todas as agências mapeadas, apresentei a ideia e pedi ajuda para coletarmos os dados. Para não termos divergências, apresentei a maneira como o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) define a raça/etnia no Brasil, sendo ela: Amarelo se refere à pessoa que se declara de origem oriental: japonesa, chinesa, coreana. Indígena é a pessoa que se declara indígena, seja as que vivem em aldeias como as que vivem fora delas, inclusive em áreas quilombolas e em cidades. Branco é quem se declara branco e possui características físicas historicamente associadas às populações europeias. Pardo se refere a quem se declara pardo e possui miscigenação de raças com predomínio de traços negros. Preto é a pessoa que se declara preta e possui características físicas que indicam ascendência predominantemente africana. Além disso, foram feitas duas perguntas: 1. Como vocês enxergam o agenciamento de pessoas não brancas em relação às oportunidades do mercado? 2. Há uma busca ativa por pessoas não brancas? Caso não, a busca passiva é suficiente? Respostas por agência Foram mapeadas doze agências e sete responderam. Dessas sete, duas não quiseram participar. As agências foram: Authoria Agência Literária & Studio; Agência Riff; Villas Boas & Moss Agência e Consultoria Literária Ltda; Increasy; Oasys Cultural; Agência Magh; O Agente; MTS Agência de Autores; Afeto agência; Agência Moneta; Agência Três Pontos; Agência RomanLit. Oasys Cultural não iriam ter tempo para consultar todas as pessoas agenciadas. Increasy não participou porque apenas 20% dos autores realizaram o preenchimento do formulário que mandaram e sentiram que a amostragem seria muito distorcida da realidade. As demais agências não responderam ou enviaram as respostas até a data da primeira publicação, mas caso respondam serão acrescentadas! Authoria Agência Literária & Studio Total de agenciados: 60 Pretos: 5 Pardo: 5 Achamos muito importante o agenciamento de pessoas não brancas, e não apenas isso. Também queremos representar pessoas não sudestinas, não homens, não cis, não heteronormativas. Achamos de imensa relevância que as minorias sejam representadas também. Infelizmente, nosso catálogo ainda não expressa a proporção que existe na sociedade de etnias, tendo uma maioria da etnia branca, porque esse não era um ponto de atenção nosso no início, mas estamos modificando isso. O mercado em geral oferece poucas oportunidades, e sabemos da importância das agências literárias abrirem as portas. Sim, há uma busca ativa por pessoas não brancas. A maioria de nosso novos agenciados são não brancos, mesmo a agência não estando aberta para novas representações. Fazemos isso para, aos poucos, na medida de nossa capacidade em absorver novos agenciados, corrigir nossa proporção de pessoas brancas e não brancas, para que se aproxime da proporção que existe na sociedade e com isso possamos dar cada vez mais oportunidades para que pessoas de etnia não branca estejam nas principais editoras do mercado editorial brasileiro. Agência Magh Total de pessoas agenciadas: 36 Pardos: 2 Pretos: 8 Brancos: 26 Sabemos que a proporção de autores não brancos na agência ainda é baixa e não é a ideal. No começo do ano, parte dos autories da Magh passou para a agência Moneta, da Karoline Mello, e desde então a agência passou por uma reestruturação geral. Temos novos agentes trabalhando e formando seu portfólio de autories, assim como trabalhamos para a formação de novos agentes no mercado, já que temos muito mais gente escrevendo do que uma ou outra agência tem capacidade de absorver. No momento, a busca é ativa e constante, dentro das nossas capacidades de absorção de novas pessoas agenciadas, dos cronogramas editoriais e das oportunidades que aparecem. Não estamos com edital aberto e não temos previsão de abertura de um novo, mas a busca ativa continua, e temos dado preferência para aumentar a diversidade de vozes na agência, o que inclui pessoas não brancas, é claro, mas também PCDs, vozes de fora do eixo Rio-SP, LGBTQIAP+ e autorias 50+. Afeto Agência Total de agenciados: 10 Pretos: 7 Pardos: 2 Branco: 1 O gerenciamento de carreira de pessoas não brancas começa bem antes de chegarmos no momento “oportunidades do mercado”, porque a gente não pode ignorar as demais camadas e individualidades que esses autores trazem com eles. É um trabalho quase diário de reforçar a importância das histórias que eles querem contar e trabalhar a autoestima intelectual. Esse é meu maior trabalho na Afeto no momento, considerando que o mercado insiste em dizer sempre o contrário. Antes de jogá-los em possíveis oportunidades é alinhar expectativas e trabalhar com a realidade de que para nós as coisas são sim diferentes, mas que é possível fazer um bom trabalho e que o que eles têm a dizer precisa ser lido. No momento não temos interesse em agenciar pessoas brancas. Aparecem algumas oportunidades de agenciamento de obras e são analisados caso a caso, mas restritos ao agenciamento da obra e não de carreira. Agência Moneta Total de agenciados: 10 Brancas: 6 Pardas: 3 Pretas: 1 Pelo fato de a Moneta ter sido fundada por uma pessoa negra, sabemos na pele as dificuldades de uma pessoa não branca para se inserir não apenas no mercado editorial, mas em qualquer meio. Falando especificamente do ramo literário, é muito difícil encontrar oportunidades para pessoas racializadas crescerem
Leitura Sensível: entenda o que é e quando contratar
Se você é um escritor que está escrevendo uma história com personagens que fazem parte de uma realidade de diferente da sua, como minorias marginalizadas, a leitura sensível é um serviço essencial para garantir a qualidade do texto e evitar problemas no futuro. O que é a leitura sensível? Você pode já ter ouvido falar em leitura sensível ou leitura de sensibilidade, os dois termos fazem referência ao mesmo serviço: a etapa de análise em obras que abordam grupos historicamente marginalizados, como pessoas LGBTQIAP+ e negros, utilizada para identificar questões na construção dos personagens e na narrativa. Quando escrevemos uma história, é normal querermos ir além da nossa realidade. Não há uma obrigação de um autor branco escrever apenas personagens brancos, por exemplo, assim como negros ou pessoas de qualquer outra etnia. Por isso, não é raro falar sobre uma outra perspectiva de vida. Por que fazer a leitura sensível? Este tipo de análise é importante para procurar uso de termos que contribuem para o reforço dos estereótipos, incoerências no discursos, discurso de ódio, preconceitos linguísticos, entre outras possibilidades. Essas questões transformam o personagem que poderia ser representativo em uma mera representação, ou seja, ele faz parte de uma minoria, mas não reflete a realidade da vivência das pessoas daquele grupo. Quem contratar para fazer este serviço? É importante buscar por pessoas que conheçam as nuances da temática trabalhada e possua um olhar crítico para fazer apontamentos para melhorar o texto. Se a produção tem protagonismo lésbico, por exemplo, deve-se concentrar uma pessoa que se identifica como lésbica para fazer o trabalho. Assim como se for negra, asiática, indígena ou gorda, por exemplo. Mas é essencial considerar, também, que cada pessoa de uma minoria é um ser individual. Ou seja, você pode falar com duas pessoas do mesmo grupo e receber apontamentos diferentes. Neste caso, o trabalho do autor é também ter um olhar crítico para a devolutiva e fazer uma escuta ativa para compreender as diferenças. Quando contratar a leitura de sensibilidade? É ideal ter a história completa antes de contratar a leitura de sensibilidade para que o leitor possa ter uma visão geral da narrativa e saber se alguma questão que aparece no início, por exemplo, será mais explicada ou desenvolvida no final. No entanto, existem leitores sensíveis que aceitam acompanhar o autor durante a escrita, cobrando por capítulo lido. Como contratar? Normalmente, o contrato de leitores sensíveis ocorrem todos por e-mail. No meu caso, faço leitura sensível para histórias com protagonismo negro, gordo e assexual. Se quiserem pedir um orçamento, entre em contato por e-mail: contato@dayaneborges.com.br
Quando a ficção científica se encontra com o romance: “Matéria Escura” e “Até o Futuro”
Sou uma romântica incorrigível. Amor ler histórias de romance, desde que comecei a minha jornada com a literatura com Crepúsculo. Talvez seja por isso também que goste tanto de histórias que misturam o amor com outros gêneros. Recentemente me encantei por duas produções que envolvem ficção científica e romance: uma série da Apple TV e um livro publicado pela HarperCollins Brasil. Bora conhecer? Matéria Escura: tudo para voltar “Matéria Escura” (ou Dark Matter) nasceu como um livro do Blake Crouch. Nesta história, acompanhamos Jason, um homem que tem uma vida feliz com sua esposa e filho, além de um melhor amigo que está prestes a receber um prêmio e o convida para trabalhar em sua empresa. Quando mais jovem, Jason já desejou ser um grande físico, mas se contenta em ser um professor universitário. No entanto, um belo dia alguém o sequestra e o leva para uma realidade diferente. Ele fica preso em uma versão da sua vida que não conhece ao lado de Amanda enquanto tenta voltar para a sua família. Para isso, passa por diversos cenários, dos mais fáceis até os mais difícies de susperar, tentando entender como a viagem entre realidades ocorre e o que é o melhor para a sua vida. Já tinha ouvido muito falar sobre essa história, mas ninguém me avisou da importância sobre o romance nela! Porque, no final, essa é uma narrativa sobre amor. Não só pelo esforço de voltar para a pessoa amada, mas também pela jornada que passamos com o personagem vendo a sua esposa em situações completamente diferentes e tendo a oportunidade de escolher um mundo diferente – e talvez até melhor do que o dele – e ainda escolher ela. Amor, afinal, é sobre escolhas diárias. Até o futuro: as várias faces do amor “Até o futuro” é um livro escrito por Emma Straub (autora de “Somos todos adultos aqui) que conta a história Alice, uma mulher de 40 anos que volta para os seus 16. Vejam a sinopse: Alice não esperava que sua vida seria assim aos quarenta anos. Ela tinha planos, só se esqueceu deles no meio do caminho, e aceitou o que o destino lhe entregou: um relacionamento tedioso, uma melhor amiga distante, um emprego suportável e seu pai em coma no hospital. Mas e se ela tivesse a oportunidade de mudar as coisas? Então, quando Alice acorda no dia do seu aniversário de dezesseis anos, de volta ao corpo adolescente, ela fará de tudo para aproveita essa nova chance e transformar o rumo da sua vida enquanto descobre como voltar para o presente — e, claro, aproveitar cada momento possível com seu pai. Este foi um dos livros mais intensos que li neste ano (até agora). Chorei muito com essa jornada de Alice porque, para além das discussões sobre amor romântico, também temos muito foco em seu relacionamento com o seu pai. São amores diferentes, mas ainda necessários de serem abordados com a profundidade que a autora entregou. Tudo envolto de viagens no tempo, mudanças no futuro e um final arrebatador. Romance e ficção científica combinam? No final dessa experiência sai com a certeza que, sim, romance e ficção científica combinam muito! A ficção científica é ótima para criar novas possibilidades para história, além das questões contemporâneas, e nos fazer não apenas pensar nos “e se”, mas vivenciar cada possibilidade. Por outro lado, ter um sentimento tão forte quando o amor sendo o fio condutor da narrativa passa a ideia de ter um lugar para voltar não só para os personagens, mas para os leitores também. Espero encontrar mais títulos, no audiovisual e na literatura, com esta combinação. Assim que conhecer mais trago atualizações para vocês.
Shanora Williams e a questão da capa com personagens negros
Você conhece Shanora Williams? Provavelmente não. Eu, pelo menos, não conhecia até o início das pesquisas para criar um vídeo sobre fantasia e romance – agora conhecidos como romantasia. Em entrevista para a Keke Magazine, a autora compartilhou um acontecimento que afeta o mercado literário, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil. Segue a leitura para entender toda a questão. Quem é Shonara Williams? Shonara Williams é uma autora que vive em Charlotte, Carolina do Norte. Mão de três meninos, tem um marido dedicado e solidário e tem onze irmãos. Quando não está escrevendo, gosta de passar tempo com sua família, lendo, correndo maratonas ou assistindo algo em serviços de straming. Ela também é autora bestseller do New Tork Times e USA Today, conhecida pelos seus romances que envolvem muita paixão, mistério e suspense. Sua coleção de escritos acumula quase 30 títulos lançados Em suas histórias, o protagonismo negro é algo pontuado. As mulheres de suas narrativas são negras. No entanto, elas não estão na capa dos livros, que são compostos, em sua maioria, por elementos dos romances ou por homens brancos (descamisados). Por que muitas capas de autoras negras não têm personagens negros? Quando a autora foi publicar um de seus livros de romance, com muito suspense, ficou surpresa com um pedido sobre a capa: não ter pessoas negras. A justificativa era que essa decisão seria boa para a comercialização da história. Ou seja, o mercado literário entende que personagens negros na capa fazem o livro vender menos. Infelizmente, isso não é algo que acontece apenas nos Estados Unidos. Vá até a sua estante, principalmente se você tem vários romances nele, e veja quantas são os livros com ilustrações ou fotos de pessoas negras, depois compare a quantidade com pessoas brancas. Viu? Aqui ou lá temos movimentos semelhantes. Shonora Williams também falou algo muito importante na entrevista: Eu não queria que as pessoas não lessem a história porque sentiam que não conseguiriam se conectar. Isso me faz pensar o quanto é injusto, porque a gente cresce tendo que buscar conexões com histórias sobre pessoas brancas porque é o que temos, mas as pessoas brancas desistem de ler por falta de conexão? Vivências negras não são consideradas universais Chegamos até a grande questão: as vivências de pessoas negras não são consideradas como universais. Ou seja, o que é branco, é universal. Todos podem ler, acessar e se identificar. No entanto, se for sobre ser uma pessoa negra, as experiências são de um grupo minoritário. Ao mesmo tempo que retiram a nossa individualidade – quem nunca esteve em uma fila e escutou a frase “vocês são irmãos” dirigida para você e um completo desconhecido que só tinha uma característica em comum: ser negro – também não nos deixam fazer parte da universalidade. Amar deveria ser uma experiência universal. Se estou escrevendo um livro sobre amor, os românticos de plantão, as pessoas apaixonadas pelo gênero ou quem só quer ler uma história assim deveria se identificar se a sinopse/rumo da história for interessante. Mas a situação não é vista desta maneira, uma história sobre amor com personagens negros na capa parece ser algo distante para pessoas brancas. Como mudar o cenário? Não é fácil mudar uma estrutura que está em vigor há muitos anos. O mercado literário tem raízes racistas, assim como a nossa sociedade ou, até mesmo, podemos falar do mundo. Mas se continuarmos dando fama para autores negros quando eles escondem a sua identidade ou não colocam pessoas negras na capa, continuaremos a dar voz aqueles que dizem que, por questões mercadológicas, é melhor ir no seguro. Podemos não mudar as editoras por agora, mas é importante termos um movimento no mercado de literatura independente, uma vez que há mais liberdade de escolha. Que tal ir no catálogo da Amazon e procurar por histórias com protagonistas negros na capa? Um passo de cada vez caminhamos para pararem de nos silenciar.